A morte de um
filho não é natural, e se fosse possível todos queríamos passar ao lado
da mais terrível de todas as perdas, mas acontece quando menos se
espera. Dizem que é a única dor que o tempo não cura nem apaga e não
custa acreditar que assim seja. A despedida de um filho é sempre
dramática, mesmo quando estava doente ou em sofrimento. Tenho ao meu
lado amigos muito queridos que perderam filhos e vivemos todos com a
consciência da sua ausência, mas também com a certeza de um amor que
permanece vivo no nosso coração.
A interrogação existencial, anotada no diário de Etty Hillesum, a judia holandesa que mor- reu pouco depois num campo de concentração nazi, faz eco e interpela profundamente. Em espe-cial quando estamos à cabeceira de um doente terminal ou quando perdemos subitamente alguém muito querido. Ontem e hoje foram dias de lágrimas e memórias de outras perdas. Guardo para sempre a imagem de um pai muito grande, debruçado sobre o pequeno caixão cor de mel do seu filho, esquecido das horas, a passar devagarinho a mão sobre a madeira num silêncio de eternidade, como que a abraçá--lo e a fazer-lhe festas para ele poder dormir em paz.
Jornalista
http://laurindaalves.blogs.sapo.pt
"E não vivemos nós uma vida inteira em cada dia, e terá grande importância uns dias vivermos mais e outros menos?"
A interrogação existencial, anotada no diário de Etty Hillesum, a judia holandesa que mor- reu pouco depois num campo de concentração nazi, faz eco e interpela profundamente. Em espe-cial quando estamos à cabeceira de um doente terminal ou quando perdemos subitamente alguém muito querido. Ontem e hoje foram dias de lágrimas e memórias de outras perdas. Guardo para sempre a imagem de um pai muito grande, debruçado sobre o pequeno caixão cor de mel do seu filho, esquecido das horas, a passar devagarinho a mão sobre a madeira num silêncio de eternidade, como que a abraçá--lo e a fazer-lhe festas para ele poder dormir em paz.
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